quando fofinha
minha cachorrinha vira-latas
me avisou que morreria
corri para o veterinário
e tentei impedi-la
e chorei na sua frente
e deitei ao seu lado
e me pus abaixo dela
só para persuadi-la
e voltei ao veterinário
mas mesmo ele já estava convencido e queria ajuda-la em sua decisão egoísta e insensata
dias depois
ela disse que sentia muito que eu sentisse tanto
mas ela já sentia mais
demais
então
sem muitas delongas
deu um aceno com a mão
e morreu
(como disse que faria)
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quinta-feira, 27 de setembro de 2012
terça-feira, 18 de setembro de 2012
poema no. 304
um poema mudo
inaudível
surdo-mudo
inefável
não porque de si
irrompa o desacordo verbal
não porque em si
a linguagem desmorone
não porque em si
as palavras amoleçam e escorram
não porque de si
escoe o sentimento pleno de rebeldia
um poema mudo
por ser mudo só
por não saber
por não poder
por não caber
inaudível
surdo-mudo
inefável
não porque de si
irrompa o desacordo verbal
não porque em si
a linguagem desmorone
não porque em si
as palavras amoleçam e escorram
não porque de si
escoe o sentimento pleno de rebeldia
um poema mudo
por ser mudo só
por não saber
por não poder
por não caber
poema no. 303
se um sonho fosse um sonho
e um poema um poema
um sonho seria um sonho
e um poema um poema
às vezes
sonhos podem ser poemas
poemas podem ser sonhos
se a eles é dado o direito de sê-los
então
(às vezes só)
poemas são sonhos
e
sonhos são poemas
e um poema um poema
um sonho seria um sonho
e um poema um poema
às vezes
sonhos podem ser poemas
poemas podem ser sonhos
se a eles é dado o direito de sê-los
então
(às vezes só)
poemas são sonhos
e
sonhos são poemas
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
poema no. 302
tenho dado para andar
só pra pensar
só pra falar
sozinho
(tem coisa que só se diz sozinho)
e essa alegria de estar só
e essa tristeza
que quando surge
é sempre mais bonita
contada do que vista
só pra pensar
só pra falar
sozinho
(tem coisa que só se diz sozinho)
e essa alegria de estar só
e essa tristeza
que quando surge
é sempre mais bonita
contada do que vista
sábado, 1 de setembro de 2012
poema no. 301 ou laicato
o homem
que por nenhum motivo importante era preto
me xingava
e direcionava a mim gestos obscenos
é que não dei a ele o real que ele pediu
(eu disse que não tinha)
embora o tivesse
de fato
estou em dificuldades financeiras
não tenho podido ir ao cinema com frequência
nem comprar refrigerante todos os dias
mas eu podia dispor de um real
dois talvez
e dar ao homem
(que estava sujo
sem nenhum motivo aparente)
de fato
não será um real
(ou dois)
que resolverá a sociedade de classes
que resolverá a questão social
mas para o homem
que sem motivo qualquer usava as vestes rotas
que seguramente conhece pouco de marxismo
parecia importante que eu lhe desse
um ou dois de meus reais
que por nenhum motivo importante era preto
me xingava
e direcionava a mim gestos obscenos
é que não dei a ele o real que ele pediu
(eu disse que não tinha)
embora o tivesse
de fato
estou em dificuldades financeiras
não tenho podido ir ao cinema com frequência
nem comprar refrigerante todos os dias
mas eu podia dispor de um real
dois talvez
e dar ao homem
(que estava sujo
sem nenhum motivo aparente)
de fato
não será um real
(ou dois)
que resolverá a sociedade de classes
que resolverá a questão social
mas para o homem
que sem motivo qualquer usava as vestes rotas
que seguramente conhece pouco de marxismo
parecia importante que eu lhe desse
um ou dois de meus reais
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