quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

poema de natal

enquanto em algum lugar
desta cidade à beira-mar
crianças são ofendidas
por jogarem seus limões
para o céu

eu choro
sob a água morna
de meu chuveiro elétrico
pensando em poemas
e em seus motivos

a luta de classes não me toca
nem a ninguém que esteja
sob água morna e ainda menos
se estiver quente e enrugando
as falanges

ao passo
em que todos os meus amores
dispersos pelo estado de são paulo
e minha solidão em meio a uma multidão
e comida e espumantes e presépios

me rasgam o peito
como balas violando corpos
num bairro operário

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

inadequação

o que me falta
é a inadequação

de fato

não apenas a imensidão inadequada
de sentir-me indesejado
inadequado
quando estou e não
ao teu lado

inadequar-me
a sério
dizer inadequações
sujas
feias
obscenas

ser completamente
impertinente
inconveniente

dizer tudo o que se faz necessário de ser dito
fazer tudo o que se faz necessário de ser feito
abrir tudo o que se faz necessário de ser aberto

apesar de
inadequado
insensato

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

ombro a ombro

a companheira isabel keppler
pensa que de si
não brota em mim
a poesia

acontece companheira

que a vida em nós é um poema
que foi escrito na luta

calejando a alma
de tanto desassombro
de tanto que seguimos
ombro a ombro

e trombamos nossos amores
que tombaram um a um
ao logo de tanta luta
e tanto calo
em tanta mão
cerrada
no alto

a esta altura de nossas vidas
em que nossos ombros não se tocam
tua chegada me toca por dentro
me arranca de mim
e me põe do avesso

um mauricio às avessas
um mauricio em prosa

uma novela

um novelo que não
se desemaranha

sábado, 21 de dezembro de 2013

poema desimportante

duzentos
duzentos mil
duzentos mil milhões de poemas

que sejam

não são aquilo que há
de mim
sobre ti

mas

o encantamento sapiente
que me faz saber-te
encanto enquanto
um instante
(um ano
duzentos mil milhões de anos)
se demora entre nós

o saber-me nuvem
pronto pra chover
pra ser um aguaceiro
um salseiro
um pé d'água
de mágoas
se massas quentes de ti se chocam
contra mim

o estar sempre pronto
a dizer sim
a ouvir não
a lançar mão
de quaisquer advérbios
que intensamente me ponham em dúvida
que este é o modo que se afirmam
nossos tempos

o calor que se dá no escuro
em frente à água fria
que chega à bacia de santos
pelo oceano atlântico
e que não chega
a tocar nossos pés

(não é versar meus versos
que te levará a saber
o que te faz em mim
é versar o meu anverso)

sábado, 14 de dezembro de 2013

poema noroeste

que
     amor é este
                este
         noroeste

que me arrasta
mas não basta
para conter
esta vasta

sabedoria
de
maresia

(amar-se-ia
amaresíamos)

este amar o mar
tanto
de marejar a vista
(mar à vista)

(me visita o cheiro salobre
do a
mar)

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

canção incompleta ou poema brega

se você passa por mim
eu desejo que aquele momento
não tenha mais fim

se você me diz bom dia
o meu dia fica esvaziado
de melancolia

se você me abraça forte
de repente eu me sinto
a última bolacha do pacote

mas se você diz
eu te amo
a vida fica em segundo plano
o sol se escurece
o céu desaba
e eu nem ligo
se o mundo acaba

porque se for pra morrer
que seja sendo amado por você

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

poema impresso

à tarde
(a tarde
que teima em se demorar
vazia de afetos e
feições)
quando escrevo
sei de você
  e de mim

sei o que só acontece
quando estou pleno de poemas
quando estou pleno de
loucuras verbais
                              de
loucas línguas que me
libidinam

e na noite
que avança na madrugada
de olhos trêmulos e
palpitantes
após estar redundante de
amores e
redondilhas

me imprimo no mundo
pra ver se
me imprimo em você

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

amanticídio

como faço pra suicidar-te
por dentro
de mim

como faço
pra cegar teus olhos
cegos
pra mim

teus olhos que não me veem
que não me vem
e não me olham

olhos que não olham
meus olhos
como os meus
olham pra ti

(pra teus olhos
pra teu corpo de pano
que balança

pra teus seios
teus dois seios
que em sonho
os sei)

como faço pra assassinar-
me dentro de ti

fazer teus olhos
desviarem sempre
para o mesmo lado
longe de meu sonho

que um sonho
se encerra
quando amanhece

mas eu amanheci
e tu segues
cega vivendo em mim

domingo, 1 de dezembro de 2013

poesia escrita pra dizer o quê

“Se insistirem para que eu diga porque o amava,
sinto que o não saberia dizer senão respondendo: 
porque era ele; porque era eu.” 
(Montaigne) 

sinto não saber mais dizer
o que há de ser dito

há de ser dito
o quê
(que a vida nos une?)

a vida nos une
assim
explodindo em mim e me moendo
e em você
algébrica
?

o que acontece
é que entre
mim e você
há desrazões
inefáveis
inauditas

é que entra
em mim mil vocês
e no fim
não há razão na minha vida
só há razão pro meu amor

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