quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Sobre o risco de escrever poemas

Sério. Tô bem!
     Poemas são literatura. Mas um tipo bem específico de literatura, pois em poesia a obra tem uma identificação muito íntima e carnal, mesmo, com o(a) autor(a). Por isso não é raro que pessoas me olhem estranho após aquele poema mais triste. Ou me abracem. Ou me olhem feio, por ver no poema uma clara referência a si mesmos. Pois a verdade é que, em muitas vezes, essas pessoas não estão delirando. De verdade, há referências a fatos reais, pessoas reais, coisas reais, ao Mauricio real nos meus poemas. Mas muitas, muitas vezes, não. Muitas vezes pessoas são criadas (vocês, elas, eles, eus) para que eu consiga dizer algo, ou para que eu consiga não dizer algo (às vezes quero não dizer).
     Não que o poema seja mero exercício de linguagem, ou que a construção do poema se assemelhe à construção de um conto ou qualquer obra de ficção. Não, o poema não acontece se o poeta não está afetado. É preciso que algo aconteça. Não uma inspiração. Não uma mágica. Não um toque do espírito santo. Mas é preciso estar além do estado ordinário. É preciso que haja um afastamento, um estranhamento do cotidiano. É preciso um afetamento.
     Mas, reitero: não levem-nos tão a sério, os poemas. Ou melhor, levem-nos a sério, mas não os tomem por páginas de um diário, ou por consultas com o psicanalista. Poemas são poemas, e isso já é demais.

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