terça-feira, 31 de janeiro de 2017

poema na porta ou poema do porto

ao sair
apague as dores
leve amores
deixe afetos

(escondidos
sob os livros
sobre o assoalho
sob a luz da luna)

que é aqui
de
onde parto
pra
onde volto

onde recolho
forças
onde desfolho
memórias
onde acolho
saudades

onde minhas raízes
aportam
onde minha calma
ancora-se
de onde (radical)
parto em luta
aonde haja
minha classe

tornando-me multidão

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

poema em prelúdio

1.
meu coração imprudente
sem modos
sem medo
se mede
no tanto que ocorre
(e meu coração ocorre tanto)

não mora nele
qualquer mácula
qualquer mágoa
qualquer nódoa
(meu coração
não se incomoda)

e se ele tanto ocorre
e se ele tanto sente
(este exagero de sentir)
é que para ele
explodir é como moda

(ocorrer em explosões
é o que mais ocorre
ao meu imprudente
e intempestivo
coração)

2.
meu coração não se cansa...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

poema à mesa

olha

com tanta lindeza
com tanta delicadeza
com tanta esperteza
com tanta vileza
com tanta destreza
com tanta gentileza
com tanta franqueza
com tanta canção francesa

não tem precisão
de me prender
ao pé de mesa

porque
a cada vez que você

olha o mundo com estranheza
diz pra mim tanta justeza
canta em meu ouvido tanta macieza
diante da injustiça, age com firmeza
beija minha boca fazendo miudeza

eu sou
mais e mais e mais
sua presa

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

poema que dói

na última hora
do ano de 2016

um homem
invadiu uma casa para matar
nove mulheres
seu filho
e dois homens

e matou

mas não matou por amor
que ninguém morre de amor
(a despeito do poema)
tampouco o fez por qualquer justeza
tristeza
certeza

matou
porque eram
nove mulheres
seu filho
(e dois homens)

matou de ódio
bala 9 mm
(disparados de seu machismo)
e cada frase reacionária
reverberada no seio
da classe média nacional

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