meu poema não é
um poema de amor
é um poema de medo
que é o medo
quem tem me movido
para cá
onde há muito estou
se não digo coisas belas
estrelas
luas
mares e estrelas
é que o medo tem sido antes
o medo tem sido primeiro
e há que ter medo
que o medo
é o alimento
deste poema
deste poeta
o medo é o alimento
e é ele que me come
e me mantém
obcordiforme
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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
poema no. 346 ou poema úmido
acontece que tenho andado
em quarto escuro
ouvindo música triste
(que música triste é mais bela)
e a escrever poemas tristes
(que eles são mais belos)
isso porque em algum momento
de minha vida
que em algum momento
passou pela tua
minha vida se desvencilhou da tua
e se te vejo
passando
andando
falando
sorrindo
chorando
fazendo coisas que as pessoas fazem
quando estão longe
dá uma saudade
que me esburaca
e se tu
me olhas
me acenas
me tocas
me beijas
me abraças
me dizes qualquer coisa delicada
dá uma vontade
de sair andando
chorando
andando sempre pra longe
que longe
muito longe
num quarto escuro
numa música triste
o pranto é secreto
em quarto escuro
ouvindo música triste
(que música triste é mais bela)
e a escrever poemas tristes
(que eles são mais belos)
isso porque em algum momento
de minha vida
que em algum momento
passou pela tua
minha vida se desvencilhou da tua
e se te vejo
passando
andando
falando
sorrindo
chorando
fazendo coisas que as pessoas fazem
quando estão longe
dá uma saudade
que me esburaca
e se tu
me olhas
me acenas
me tocas
me beijas
me abraças
me dizes qualquer coisa delicada
dá uma vontade
de sair andando
chorando
andando sempre pra longe
que longe
muito longe
num quarto escuro
numa música triste
o pranto é secreto
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
poema no. 345
como não depender de você
de você só ao meu lado
dormindo mesmo
sonhando talvez (comigo?)
fazendo qualquer coisa cotidiana
esperando o ônibus que nunca vem
a vida que há de mudar
estando mais que sendo
estando só
ao meu lado
se nasci pra ser assim
dependente
não de você
mas de tudo que se ponha ao meu lado
e sorria
se você sorri e me olha
sorrindo
se você sorri
e permanece sorrindo quando dorme
e talvez sonhe com outra
com outras coisas
e sorri
sorri
e me hipnotiza e me tira de mim e me põe em suspensão
mas acontece
que a vida não se vive em suspensão
a vida tem urgências concretas
que pede meus pés no chão
que me pede sem sorrisos
que a vida é coisa séria
acontece que a vida
precisa de mim inteira
porque de mim
e de minhas companheiras
querem mais meu sexo que meu sorriso
mais meu ânus que minha estância
ou minha espera cotidiana
por isso
eu te amo
mas não te quero
mais que quero mudar o mundo
mais que quero mudar o mundo em um mundo
onde minha boca valha mais dizendo sorrisos
que se portando como um orifício
de você só ao meu lado
dormindo mesmo
sonhando talvez (comigo?)
fazendo qualquer coisa cotidiana
esperando o ônibus que nunca vem
a vida que há de mudar
estando mais que sendo
estando só
ao meu lado
se nasci pra ser assim
dependente
não de você
mas de tudo que se ponha ao meu lado
e sorria
se você sorri e me olha
sorrindo
se você sorri
e permanece sorrindo quando dorme
e talvez sonhe com outra
com outras coisas
e sorri
sorri
e me hipnotiza e me tira de mim e me põe em suspensão
mas acontece
que a vida não se vive em suspensão
a vida tem urgências concretas
que pede meus pés no chão
que me pede sem sorrisos
que a vida é coisa séria
acontece que a vida
precisa de mim inteira
porque de mim
e de minhas companheiras
querem mais meu sexo que meu sorriso
mais meu ânus que minha estância
ou minha espera cotidiana
por isso
eu te amo
mas não te quero
mais que quero mudar o mundo
mais que quero mudar o mundo em um mundo
onde minha boca valha mais dizendo sorrisos
que se portando como um orifício
poema no. 344
em pensar
em cada folha do carnê
em cada garfada de arroz com bisteca
em cada casa com seus vazamentos e sinais de umidade verde
morro como se a vida acabasse
se esvaziasse
se esvaísse vazia e flácida
em pensar
que nada supera o capô de meu carro que teima em não fechar
que nada supera o banho apressado entre o almoço e o ônibus
que nada supera o ônibus entre o banho e a aula que é ansiolítica
tendo a viver de suspiros
com um olhar de peixe morto
como os do mercado de peixe que frequento às quintas
só que vivo
em cada folha do carnê
em cada garfada de arroz com bisteca
em cada casa com seus vazamentos e sinais de umidade verde
morro como se a vida acabasse
se esvaziasse
se esvaísse vazia e flácida
em pensar
que nada supera o capô de meu carro que teima em não fechar
que nada supera o banho apressado entre o almoço e o ônibus
que nada supera o ônibus entre o banho e a aula que é ansiolítica
tendo a viver de suspiros
com um olhar de peixe morto
como os do mercado de peixe que frequento às quintas
só que vivo
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
poema no. 343
there was a boy
a very strange
enchanted boy
(Eden Ahbez)
sim
há o encantamento
mas menos pelos olhos
menos pelos cabelos
ou pelos pelos
(que se ouriçam
se uma palavra bela os toca)
há o encantamento
mas mais pela força da palavra
que sai da boca
que treme e me ouriça
pela ênfase do olhar que os olhos fazem
pela seriedade dos cabelos
que são sérios se assim é preciso
que são lindos se é hora de serem lindos
mais porque
tem hora de estar encantado
e ser menos preciso
menos necessário
menos síndico
e ser menos preciso
menos necessário
menos síndico
responder menos
cuidar menos
administrar menos
tem hora
que é só hora
do encantamento
cuidar menos
administrar menos
tem hora
que é só hora
do encantamento
poema no. 342
ser covarde é
não ter coragem
- não fazer o que
tem de ser feito
porque se tem medo
como parar na frente
de alguém e dizer
o que se pensa
o que se sente
porque dá medo de dizer
o que se sente
e o interlocutor dar de ombros
não gostar
saber que o que se sente
não é o que o outro sente
(como alguém ousa
não pensar
como sinto)
não ter coragem
- não fazer o que
tem de ser feito
porque se tem medo
como parar na frente
de alguém e dizer
o que se pensa
o que se sente
porque dá medo de dizer
o que se sente
e o interlocutor dar de ombros
não gostar
saber que o que se sente
não é o que o outro sente
(como alguém ousa
não pensar
como sinto)
poema no. 341
iara não é sereia
sereia tem rabo de peixe
cabelo louro
e canta em europeu
iara é índia
tapuia
cabelo preto
e canta em brasileiro
não passa iara na tevê
iara passa andando deslizando
só na minha cabeça
dilacerando meus lábios
rasgando devorando meu coração
e voltando nadando afundando no
igarapé
iara na minha cabeça
é iara afundando no meu corpo
e meu corpo afundando na iara
sereia tem rabo de peixe
cabelo louro
e canta em europeu
iara é índia
tapuia
cabelo preto
e canta em brasileiro
não passa iara na tevê
iara passa andando deslizando
só na minha cabeça
dilacerando meus lábios
rasgando devorando meu coração
e voltando nadando afundando no
igarapé
iara na minha cabeça
é iara afundando no meu corpo
e meu corpo afundando na iara
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
poema no. 340
sonhei que estava parado
parado só
olhando
não dizia
não movia
não partia
só olhava
(e pensava)
só podia olhar
(e pensar)
igual quando estou
acordado
e só olho
e só penso
(é que há sonhos
e há vidas
inefáveis
inauditas)
parado só
olhando
não dizia
não movia
não partia
só olhava
(e pensava)
só podia olhar
(e pensar)
igual quando estou
acordado
e só olho
e só penso
(é que há sonhos
e há vidas
inefáveis
inauditas)
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
poema no. 339
estar meio
sem palavras
é ter receio
(ter medo
ao meio)
de ao dizer
uma palavra
meia palavra
uma ideia só
que não se pode
dizer
dizer o
inefável
impensável
infindável
e tornar
instável
o que já o é
sem palavras
é ter receio
(ter medo
ao meio)
de ao dizer
uma palavra
meia palavra
uma ideia só
que não se pode
dizer
dizer o
inefável
impensável
infindável
e tornar
instável
o que já o é
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