domingo, 24 de março de 2013

poema no. 351

não é porque estou apaixonado
(sempre
o tempo todo
por tanta gente
ao mesmo tempo)
que sou poeta

mas pela quantidade
de espaços vazios em meu peito
pela quantidade
de espaços vazios noite adentro
noite afora
pelo imenso vazio que é a noite

pelos tantos vazios
em que me enfio
noturnamente

e só sobra a vontade imensa de trepar
desesperadamente
e me embriagar
me preencher de embriaguez
desesperadamente
e me desesperar
embriagadamente

sou poeta
mas não porque conheça
os exercícios formais
porque tenha ido a aulas de ritmo
e arquitetura
e linguística

sou porque sou
porque verti-me em
vesti-me
de delírios insones
e os enfiei em mim
em cada espaço vazio
oco
inócuo

e porque
me preencho
porque estou
pleno de nada
penso que sou
o que não sou
e
vou
como quem fosse
mas não vai

e aí
dou a usar olheiras
dou a masturbar-me
noite adentro
a ferir-me noite adentro
a gargarejar ideias
e fonemas
e mumúrios sem porquê
sonhando
e pensando em coisas que não existem
em coisas que não passam de palavras
significante significado objeto representamen interpretante
em coisas que não podem me ferir
não podem
mas ferem

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