quinta-feira, 27 de junho de 2013

poema no. 365

fazer um poema
apaixonado
a esta altura da vida
em que pessoas morrem
sob viadutos

de fome
de frio
e de luta

é coisa de poeta insensível

a vida ardendo
companheiros morrendo
mulheres e homens
queimando a vida 
em barricadas

mas e agora
se meu coração treme

de raiva
de luta
e de amor

lutarei
todas as lutas justas
com pedras e bandeiras numa mão 
e os pedaços de meu baleado coração na outra

quarta-feira, 26 de junho de 2013

poema no. 364

no verão
andarão

na verinha
andorinha

poema no. 363

não quero falar
o que quero falar

preciso de sonhos
tenho lançado mão de sonhos que me traduzam
e me recobrem a insanidade
me tragam de volta
à desrazão

acontece que
dizer o que
se em tudo
deixo de acontecer
se acontece de um carinho acontecer

mas os carinhos custam caro
a este frouxo coração

e pois
me quero acontecido
me quero firme e rijo
me quero sorrindo

o mesmo sorriso falso
que todos o sabem assim

(são e salvo
de qualquer desilusão)

domingo, 23 de junho de 2013

poema no. 362

a luta de classes
se trava também sem luta
ou
na luta que se trava no convencimento
de que só a luta muda
a gente
que só a gente muda
a luta

a luta de classes
se trava também nas ruas
se trava comendo bala
se trava chorando nas nuvens
de gás

se trava socorrendo feridos
se trava na dúvida de si
na dúvida do mundo

se trava não sabendo que passo dar
para onde dar

a luta de classes se trava parando por um segundo
e olhando o mundo
e entendendo-o

e comendo bala
e chorando gás

a luta de classes se trava entre classes
contra a classe que oprime
que domina
que se infiltra
que aponta meninos

mas
que teme
a minha classe

sábado, 22 de junho de 2013

Nu no Azul

A imagem de fundo desta semana é esta ao lado. Nu no Azul.

Foi feita precariamente a partir da técnica de light painting, com uma câmera amadora, mesmo. Utilizando a função "retrato noturno".

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Esboço de Blog de cara nova e com novidade

O esboço de blog que ia ser passou por uma revisão estética e terá uma novidade. Toda semana haverá uma nova imagem de fundo. Ela será alterada digitalmente para atender ao esquema de cores do blog, mas a imagem original será postada também no blog.

Nesta semana a imagem de fundo é uma foto minha, do Parque do Ibirapuera. É uma fotografia multi-exposta de um bosque do parque.

E seguem os artigos sobre cultura e arte em "esboços quentes" e o "um poema por dia", que já está em sua reta final.

domingo, 9 de junho de 2013

poema no. 361

companheira
não sou nada
nem posso ser nada
agora que o mundo se abre num abismo
e se mostra em dor

não somos próximos
não somos nada
mais que companheiros de luta
em busca de outro mundo
(um que não possua abismos
um que não se mostre em dor)

e por não sermos nada mais que companheiros
é que te digo
há aqui um companheiro
e em volta há tantas outras
tantos outros

a vida seguirá doendo
haverá ainda (talvez para sempre) um buraco do tamanho de um abismo doloroso

mas teus companheiros
e tuas companheiras
sempre haverão de estar ao teu lado
para sofrer de tua dor
se for preciso
e para seguirmos
adiante

poema no. 360

sei que não farei um poema
não há talento
nem dedicação neste momento
para que seja escrito um poema

não há paciência para que se desconstrua a linguagem
para que eu me detenha sobre a forma
para que eu pense sobre questões de prosódia

ainda assim
escreverei com meu estômago
que queima
de tanto que como
na tentativa de me tornar feliz
substituindo-te
por gorduras e sal

escreverei sob a vertigem
e mais
sob a intensa certeza de saber-me tolo
fraco e tolo
imensamente fraco tolo e bobo

vertiginosamente
escreverei ao léu
não um poema
mas uma cuspida
após o pronunciamento de seu nome
lacrimal

sexta-feira, 7 de junho de 2013

AMOR ANTICAPITALISTA

Poema de El Rey Peste
Tradução de Mauricio de Oliveira Filho
Original em Espanhol pode ser lido no Blog do próprio autor em Cultura Indigente.

No dia em que decidimos abolir
a propriedade privada,
deixei de crer-me teu,
deixaste de crer-te minha
e, por fim, nos descobrimos
livremente NOSSOS.

Uma mais valia de beijos
encheu as calçadas,
a poesia saiu desnuda
até a rua
para socializar metáforas.

A dialética da saliva
varreu os capitalistas
das esquinas.

A burguesia buscou
refúgio nos tapetes,
enquanto as mulheres públicas
se emancipavam
do dicionário.

No dia em que abolimos a propriedade,
nos descobrimos NOSSOS
e um fantasma percorreu
Europa
e Asia e
América
e África..

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