não é porque estou apaixonado
(sempre
o tempo todo
por tanta gente
ao mesmo tempo)
que sou poeta
mas pela quantidade
de espaços vazios em meu peito
pela quantidade
de espaços vazios noite adentro
noite afora
pelo imenso vazio que é a noite
pelos tantos vazios
em que me enfio
noturnamente
e só sobra a vontade imensa de trepar
desesperadamente
e me embriagar
me preencher de embriaguez
desesperadamente
e me desesperar
embriagadamente
sou poeta
mas não porque conheça
os exercícios formais
porque tenha ido a aulas de ritmo
e arquitetura
e linguística
sou porque sou
porque verti-me em
vesti-me
de delírios insones
e os enfiei em mim
em cada espaço vazio
oco
inócuo
e porque
me preencho
porque estou
pleno de nada
penso que sou
o que não sou
e
vou
como quem fosse
mas não vai
e aí
dou a usar olheiras
dou a masturbar-me
noite adentro
a ferir-me noite adentro
a gargarejar ideias
e fonemas
e mumúrios sem porquê
sonhando
e pensando em coisas que não existem
em coisas que não passam de palavras
significante significado objeto representamen interpretante
em coisas que não podem me ferir
não podem
mas ferem
marcadores que iam ser
pesquisar esboços
domingo, 24 de março de 2013
segunda-feira, 18 de março de 2013
poema no. 350
um rivotril
ou dois
bastariam para fazer de mim
o homem mais feliz do mundo
aquele que não disse o que disse
aquele que não fez o que fez
aquele que disse o que não disse
aquele que fez o que não fez
claro que a depressão do sistema nervoso central não é coisa com que se brinca
claro que sempre se pode dispor de outros métodos
chás
ou dois
bastariam para fazer de mim
o homem mais feliz do mundo
aquele que não disse o que disse
aquele que não fez o que fez
aquele que disse o que não disse
aquele que fez o que não fez
claro que a depressão do sistema nervoso central não é coisa com que se brinca
claro que sempre se pode dispor de outros métodos
chás
maconha
mas o bem da ausência
chás alucinógenos
exercícios para respiração
masturbação
masturbação
mas o bem da ausência
o ser o que se não foi
só com um rivotril
ou dois
sexta-feira, 15 de março de 2013
poema no. 349 ou poema sensato
sempre
a sisudez
a sensatez
a aspereza
a frieza
a certeza
é certo que havia beleza
- uma áspera beleza -
e havia sorrisos
- uns ásperos sorrisos -
e havia ternura
- uma fria ternura -
mas havia a relutância
em crer que
de nós
a sensata
de nós
a certa do que havia de ser certo
a dona dos olhos abertos
(que há hora de tê-los abertos)
chorava
levava o sentimento ao limite
rasgava o coração
pois rasga
a sisudez
a sensatez
a aspereza
a frieza
a certeza
é certo que havia beleza
- uma áspera beleza -
e havia sorrisos
- uns ásperos sorrisos -
e havia ternura
- uma fria ternura -
mas havia a relutância
em crer que
de nós
a sensata
de nós
a certa do que havia de ser certo
a dona dos olhos abertos
(que há hora de tê-los abertos)
chorava
levava o sentimento ao limite
rasgava o coração
pois rasga
segunda-feira, 4 de março de 2013
poema no. 348 ou versinhos conservadores de amor
amor não te amo
como já te amei
como naquele tempo em que
tu eras rainha
e eu um rei
não fiques preocupada
não há o que temer
é que amor não é amor
se nele estiver contido
o poder
não fiques magoada
nem fiques com saudade
que amor só é amor
se nele estiver colada
a liberdade
não se sintas culpada
não é questão de culpa
é coisa de amor
que amor é coisa como nós
coisa que muda
então não fiques presa
ao nosso amor primeiro
que eu não mais te possuo
eu te amo como ama
um companheiro
como já te amei
como naquele tempo em que
tu eras rainha
e eu um rei
não fiques preocupada
não há o que temer
é que amor não é amor
se nele estiver contido
o poder
não fiques magoada
nem fiques com saudade
que amor só é amor
se nele estiver colada
a liberdade
não se sintas culpada
não é questão de culpa
é coisa de amor
que amor é coisa como nós
coisa que muda
então não fiques presa
ao nosso amor primeiro
que eu não mais te possuo
eu te amo como ama
um companheiro
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