quinta-feira, 25 de abril de 2013

poema no. 354

na cama
ao teu lado
olho para o teto
e ele não é nada mais que o teto
descascado e úmido
de nosso quarto

como a cama mesmo
não é nada senão uma cama
que já foi de meu avô
de onde ele foi tirado e pra onde nunca mais voltou

os sapatos jogados
que são fora sapatos
a que se prestam os sapatos
meios sujos
meio furados
para além de sua existência como sapatos
como sujeira
como furos

os sapatos
que já carregaram significados complexos e diversos
neste momento não podem carregar nada
nem eu nem meus pés
nem qualquer coisa minha
que eu mesmo não carrego mais

e eu
que sou pra além de um corpo
ao teu lado
de um corpo que pesa na cama
já muito tarde
e teme
e treme
e (sim)
   freme

mas não mais como quem olhasse e visse outra coisa
outro mundo
mas como que olha e vê o teto

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