a Ricardo Ferreira Gama
1.
pouco nos falamos
enquanto limpavas
o chão em que eu
pisava
enquanto puxavas com o rodo
a água da chuva sob a chuva
enquanto punhas em ordem
as cadeiras
as carteiras
os carpetes
para eu passar
mas foste tu quem passou
2.
pouco nos falamos
bom dia boa tarde
oi até mais
obrigado disponha
etc etc
no dia em que tivemos assunto
ele era tu
e logo
o assunto morreu
3.
talvez faças pouca falta
as cadeiras
as carteiras
os carpetes
seguirão arrumados
e além do mais
teu trabalho não gerava
mais valia
talvez em muitos
tua morte não produzirá saudade
(há quem não note a mão
que produz o produto
até que ele falhe ou falte
e teu trabalho
persistirá a ti)
4.
infelizmente não creio em
vida após a morte
mas crê
haverá luta na tua morte
para que mude o estado das coisas
para que chegue o dia
em que o estado não mate
ao contrário
morra
e aí
tu não serás morto
(nunca mais)
Muito lindo, uma bela homenagem
ResponderExcluirum bela homenagem a um trabalhador.
ResponderExcluirEmociona! A força do poema traz o desespero por encontrar o rumo seguro para mudar o que parece tão sólido. Estado e capital não podem continuar tombando trabalhadores! Ricardo Gama não é mais um, estamos presentes, não permitiremos que a ordem das carteiras, cadeiras, carpetes ordene nosso esquecimento! Ricardo Gama, presente!
ResponderExcluirSempre me arrepia.
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