sábado, 9 de novembro de 2013

noturno

a noite morta passa por mim
todo dia
toda hora

e por ela eu passo vivo
que é em pranto que se sabe vivo
que é pisando no coração
já em hematomas
fistulado
que se arrebenta
e tem se arrebentado
que a condição viva se faz lembrar

à noite
com o frescor que vem dos lados do mar pequeno
onde há pouco houve um incêndio
(e quem soube)
e quando as ideias queimam
a si
a mim
me sei vivo
que é em carbono
que a vida se organiza

e se rasgo meu peito
e reviro meu órgãos
e cavuco a cachola em busca de loucuras
é que eviscerado posso ver
e sentir
que o corpo pulsa sua matéria
que é sonho e frio
e medo

de estar só
de tanto que pergunto
de tanto que reclamo
de tanto que a noite acontece e a sei
e preciso dizer
que sei

e preciso saber que a sei
pois sei que a lei
é deixar só
os mortos

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