sexta-feira, 11 de março de 2011

Música de preto - crime [ATUALIZADO]

MC Leonardo: "A gente parou de ser tocado"
   Não há por estas bandas quem nunca tenha torcido o nariz para aquele carro que passa tocando funk. Contudo, o que vem acontecendo no Rio de Janeiro é algo além disso. E mais grave.

   Em 2008, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro aprovou um projeto de lei do então deputado Álvaro Lins. O projeto - agora lei -  criminalizava o baile funk. Além disso, determinava regras para a realização de eventos que apenas os espaços mais "sofisticados" podiam atender. Pondo à margem os clubes localizados na periferia.
   A lei foi aprovada pela seguinte contagem:  69 votos a favor e um contra. O único voto contra foi de Marcelo Freixo, deputado pelo PSOL e que fez denúncias contra Álvaro Lins que levaram à sua cassação e prisão por formação de quadrilha, facilitação de contrabando, lavagem de dinheiro e corrupção ativa. No entanto, a lei segue firme e forte.
   Nas favelas,com isso, o Funk está proibido. Os Bailes Funk só acontecem em horários nos quais a polícia não entra no morro. Levando o Funk definitivamente à marginalização. 
   Nas favelas onde existem UPPs, os bailes foram extintos. As UPPs agem de forma repressora contra qualquer cidadão que esteja ouvindo Funk.

Erotização

   E neste momento, muita gente deve estar pensando: "Ótimo! Tem é que acabar mesmo com essas músicas de putaria, que não têm letra. Aquele batidão!".
   Pois esse foi o argumento usado no início do século passado contra o samba. A música de preto favelado que desceu o morro. Tal como com o Funk, a elite torcia o nariz para o samba por conta de suas letras pouco "sofisticadas" e ritmo sensual - coisa de preto.
   Mas, se o caso for absolutamente a erotização das letras, saiba que isso se dá por um motivo: Indústria Cultural.

Produto caro

   Para além da questão de criminalização do Funk, está a questão da comercialização. Com o tempo, o Funk deixou de ter caráter social para ter caráter sensual. E isso, em si, não chega a ser um grande problema. O problema é o que levou a isso.
   O Funk, nos anos 90, era conhecido por suas letras de cunho social, com denúncias. Com o tempo, estes autores foram desaparecendo das mídias e dando lugar a músicas com letras que rebaixam a mulher à condição de objeto, reproduzem frases homofóbicas etc. E isso por um motivo simples.
   O mercado do Funk é controlado hoje por um cartel, formado por dois empresários: Marlboro e Rômulo. Eles determinam o que toca e o que não toca no mundo do Funk. E foram, justamente eles, que determinaram que o Funk, pra tocar, tem de ser erotizado e machista até onde não der mais.
   Chega a embasbacar os termos do contrato que o cartel impõe: Marlboro cobra 96% do valor, entregando apenas 4% ao artista (ou à dupla), Rômulo cobra 100% dos lucros. Nos shows, ambos ficam com o quase  100% dos lucros. ECADE é fichinha.
   Diante de tudo isso, fica a pergunta: Onde está, neste exato momento, a Ministra Ana de Hollanda, para proteger os autores?

   Abaixo, entrevista com Mc Leonardo, presidente da APAFUNK - Associação dos Profissionais e Amigos do Funk.
  

Leonardo Pereira Mota from FLi Multimídia on Vimeo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...