terça-feira, 30 de outubro de 2012

poema no. 313

o poema que pensei
se perdeu

vazou pelo ralo do banheiro


com a água quente
e a sujeira de meu corpo

neste momento
o poema que pensei e se perdeu
deve estar solto
correndo em alguma corrente do atlântico sul
junto ao cocô ao xixi e ao papel higiênico usado (que tem gente que joga no vaso)
de todas as pessoas de praia grande
(menos as que moram no mangue e nas palafitas
que essas não possuem saneamento básico
e tem de conviver com seus excrementos)

não me lembro do tema
do poema
nem daquilo que me tocava
naquela noite estranha
sob o chuveiro
desperdiçando água quente

decerto era um poema

pois para nós
os que possuimos saneamento e água quente
fazer poemas
é mera banalidade formal

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