quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

As lições de R. Q.

Manoel de Barros


Aprendi com Rômulo Quiroga (um pintor boliviano):
A expressão reta não sonha. 
Não use o traço acostumado.
A força de um artista vem das suas derrotas.
Só a alma atormentada pode trazer para a voz um
formato de pássaro. 
Arte não tem pensa:
O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê. 
É preciso transver o mundo. 
Isto seja:
Deus deu a forma. Os artistas desformam. 
É preciso desformar o mundo:
Tirar da natureza as naturalidades.
Fazer cavalo verde, por exemplo. 
Fazer noiva camponesa voar - como em Chagall.

Agora é só puxar o alarme do silêncio que eu saio por
aí a desformar. 

Até já inventei mulher de 7 peitos para fazer vaginação
comigo.

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