Quando falamos de preconceito, principalmente duas de suas manifestações são lembradas com mais frequência: racismo e homofobia. É muito comum, inclusive, que pessoas defendam a causa negra e LGBTT, ainda que veladamente tenha medo de negros tarde da noite e se enoje ao ver duas mulheres se beijando (ou se excite, vendo essas "depravadas"). Pois é de bom tom fazê-lo.
Contudo, há um tipo de preconceito que não dá audiência e, por isso, segue esquecido, desconhecido e, quando manifestado, é afirmado com o orgulho intelectual: o preconceito linguístico.
Tal como qualquer tipo de preconceito, não é nada além de julgar um comportamento (aqui, linguístico) como modelo para toda a coletividade e, assim, rejeitar tudo aquilo que se desvia desse modelo.
Acontece que, ao preconceito linguístico, absolutamente não há rejeição. Pelo contrário. Surgem livros e mais livros, programas e mais programas, a respeito de "como falar português corretamente", "não erre mais e cresça na carreira". Esses programas, livros, revistas, artigos não fazem senão destruir a liberdade de cada cultura construir sua forma linguística, além de perpetuar o preconceito disseminando a ideia, ainda que (espero) sem intenção, de que quem se desvia desse padrão linguístico (a gramática normativa que aprendemos - ou não - na escola) tem menos capacidade intelectual. É burro.
Tal como qualquer tipo de preconceito, não é nada além de julgar um comportamento (aqui, linguístico) como modelo para toda a coletividade e, assim, rejeitar tudo aquilo que se desvia desse modelo.
Acontece que, ao preconceito linguístico, absolutamente não há rejeição. Pelo contrário. Surgem livros e mais livros, programas e mais programas, a respeito de "como falar português corretamente", "não erre mais e cresça na carreira". Esses programas, livros, revistas, artigos não fazem senão destruir a liberdade de cada cultura construir sua forma linguística, além de perpetuar o preconceito disseminando a ideia, ainda que (espero) sem intenção, de que quem se desvia desse padrão linguístico (a gramática normativa que aprendemos - ou não - na escola) tem menos capacidade intelectual. É burro.
Ora, o que aconteceria se, hoje, uma pessoa de pele preta, num programa de humor, fosse ridicularizada por sua cor, chamada de macaca, ou insinuassem que ela fosse uma criminosa, ou qualquer uma das ofensas racistas repetidas ao longo de séculos? Óbvio. Com razão, uma enxurrada de e-mails invadiria a caixa postal da emissora. Seguramente, alguém entraria com uma ação contra a empresa e, decerto, alguém haveria de ser punido (ainda que provavelmente seja brandamente).
Mas, por que o mesmo não ocorre quando supostos "erros de português" são repetidos ininterruptamente após a fala de banhistas, num momento de lazer, durante o programa Pânico na TV. Ou, por que o personagem Seu Creysson, que imitava caricatamente certa variedade linguística que fugia à norma padrão da língua, era tolerado e mais - aplaudido?
Porque, os canais de tevê, que exibem esses programas, e os meios de comunicação de modo geral, gritam em uníssono que, sim, quem foge à norma culta é burro. E dá-lhe Nossa Língua Portuguesa pra lá e Dicas da Dad pra cá.
Pessoas como Pasquale Cipro Neto e Dad Squarisi prestam um desserviço à cultura brasileira. Primeiro porque quando propõem dicas para se usar melhor a língua, não estão dizendo senão que alguns grupos a usam mal.
Ora, por Deus, como posso dizer que determinado grupo fala errado ao dizer "nós vai pra lá", se nesse grupo todos falam dessa forma? Como culpá-los por fazer uma construção que os ingleses, em determinado ponto da história, também decidiram usar (I go, You go, We go)?
Ainda que, vez ou outra, estes autores até reconheçam que a língua é dinâmica, viva e está em constante mudança, e que os "acertos" de hoje foram os "erros" do passado, sua insistência em promover o uso adequado da língua corrobora a ideia preconceituosa de que há quem fale melhor que a média da população.
Voltaremos a esse assunto, mas para saber mais agora, veja aqui o site do linguista Marcos Bagno, o maior militante contra o preconceito linguístico no país e, abaixo, ouça um trecho de seu livro "Preconceito Linguístico" (com latidos ao fundo, mas bem interessante).
E, vale dizer, qualquer forma de preconceito é execrável e serve apenas para perpetuar relações de poder engessadas que mantém uma pequena elite em posições hierárquicas mais privilegiadas.
Mas, por que o mesmo não ocorre quando supostos "erros de português" são repetidos ininterruptamente após a fala de banhistas, num momento de lazer, durante o programa Pânico na TV. Ou, por que o personagem Seu Creysson, que imitava caricatamente certa variedade linguística que fugia à norma padrão da língua, era tolerado e mais - aplaudido?
Porque, os canais de tevê, que exibem esses programas, e os meios de comunicação de modo geral, gritam em uníssono que, sim, quem foge à norma culta é burro. E dá-lhe Nossa Língua Portuguesa pra lá e Dicas da Dad pra cá.
Pessoas como Pasquale Cipro Neto e Dad Squarisi prestam um desserviço à cultura brasileira. Primeiro porque quando propõem dicas para se usar melhor a língua, não estão dizendo senão que alguns grupos a usam mal.
Ora, por Deus, como posso dizer que determinado grupo fala errado ao dizer "nós vai pra lá", se nesse grupo todos falam dessa forma? Como culpá-los por fazer uma construção que os ingleses, em determinado ponto da história, também decidiram usar (I go, You go, We go)?
Ainda que, vez ou outra, estes autores até reconheçam que a língua é dinâmica, viva e está em constante mudança, e que os "acertos" de hoje foram os "erros" do passado, sua insistência em promover o uso adequado da língua corrobora a ideia preconceituosa de que há quem fale melhor que a média da população.
Voltaremos a esse assunto, mas para saber mais agora, veja aqui o site do linguista Marcos Bagno, o maior militante contra o preconceito linguístico no país e, abaixo, ouça um trecho de seu livro "Preconceito Linguístico" (com latidos ao fundo, mas bem interessante).
E, vale dizer, qualquer forma de preconceito é execrável e serve apenas para perpetuar relações de poder engessadas que mantém uma pequena elite em posições hierárquicas mais privilegiadas.
Será que o senhor já ouviu falar de adequação linguística? O senhor já estudou linguística? Sim, porque ouvir comentários de estudiosos renomados como o professor Marcos Bagno, ou de outros expoentes da área, é uma atitude louvável, embora um tanto quanto incompleta. Após passar por um curso acadêmico completo na área de Letras, ouvindo exposições acerca do assunto em forma de aulas e de palestras, lendo livros e confrontado de forma dialógica muitos pormenores da questão, eu e muitos colegas chegamos a formar opiniões diametralmente opostas à sua. Sim, isso porque há duas coisas distintas. Uma delas é o preconceito linguístico, no âmbito do qual segregam-se pessoas pelo simples fato de elas não dominarem o padrão culto da linguagem. Isso é condenável, realmente. Outra coisa, bastante diferente, é o princípio da adequação linguística. Este dá conta de que, ao ampliarmos nosso conhecimento acerca das estruturas morfológicas, sintáticas, semânticas, lexicais, de prosódia e normativas gramaticais, as quais são responsáveis pela organização do sistema linguístico e aprimoramento da comunicabilidade no meio social, abrimos um leque de possibilidades de interatividade com os demais seres humanos. Para ilustrar melhor o que digo, imagine se não houvesse regra nenhuma a seguir no campo linguístico. As gírias e variações dialetais em geral, as quais não seguem padrão definido algum e variam diacronicamente e também geograficamente, acabariam por sufocar a clareza das informações até chegarmos ao ponto da incomunicabilidade. Portanto, vir a criticar o senhor Pasquale Cipro Neto (do qual não tenho procuração para exercer qualquer tipo de defesa) ou qualquer outro linguista, simplesmente pelo fato de ele procurar ensinar o padrão culto da linguagem, o qual é o lastro e o mantenedor da herança comunicativa para as futuras gerações, é no mínimo, uma forte incongruência. Quando dominamos o padrão culto da linguagem, podemos também dominar a forma coloquial, mais chula, e usá-la no ambiente adequado, mais informal. É como ter uma caixa de ferramentas bem suprida, da qual podemos retirar o que precisamos na hora mais adequada. Se, porém, só tivermos uma chave de fenda, o que faremos quando a situação demandar um alicate? Pense um pouco, senhor. A atual onda de politicamente corretos, com propensas defesas às classe C, D, Y e Z, está desvirtuando as coisas. Porque evitar injustiças é uma coisa, mas transformar tudo em "oba-oba", é outra! Certa relativização desenfreada de todos os aspectos da vida está levando o mundo á ruína do discernimento, dos valores, do cabedal de informações tão longamente construído. Assim sendo, recomendo que o senhor reconsidere sua posição. Preconceito linguístico não pode ser comparado à adequação linguística, à ideia de que é preciso estudar para transcender barreiras de comunicabilidade. Senão, continuaremos a torcer por reformas ortográficas que eliminem tudo aquilo que é considerado "difícil" de aprender, ao invés de abrirmos nossos horizontes com esforço intelectual e pessoal para crescermos cognitiva e culturalmente. Agradeço por sua atenção ao meu argumento, e faço-o reparar que, durante toda a minha explanação fiz uso da linguagem formal, tida como culta. Não usei de impropérios, acusações, julgamentos de valor contra o senhor. Isso não foi mais adequado?!
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