Fotografia (ponto) |
Parece bobo esboçar sobre fotografia digital como um avanço tecnológico num momento em que meus colegas de universidade nunca viram um filme fotográfico. Contudo, a discussão sobre a fotografia digital se dá menos pela tecnologia em si e mais no comportamento do fotógrafo artista.
Não me aterei à discussão que teve início no século XIX e dura até hoje - fotografia é arte? Mas por quais processos se chega à arte. Neste momento, há milhões de pessoas fotografando de seus celulares, câmeras amadoras e editando suas fotografias com o Photoshop, Light Room, Gimb e outros. Com mais ou menos talento, intuição, perícia, instrução, essas milhoes de pessoas registram não só o seu dia-a-dia, como o mundo à sua volta. A sociedade nunca foi tão registrada fotograficamente.
Em cerca de 200 anos, a fotografia evolui do Daguerriótipo para a Canon EOS-1Ds Mark-III. Passando pela Nikon FM2 e pela Apple IPhone. A questão, então, atinge todas as etapas da fotografia. A capatção da imagem, hoje, possui todo o tipo de recursos que auxiliam uma possível lente pouco luminosa, que substitui um filtro, que reproduz o ISO. Na ampliação (quando acontece, o que é cada vez mais raro), dispensasse a sala escura e impressoras de alta definição fazem o trabalho. E quais as consequências disso para a fotografia de arte?
Antes de responder a pergunta, reitero que digo de arte em contraposição à fotografia social e jornalística. Nesses casos, é inegável que a fotografia digital não fez senão colaborar imensuravelmente. O repórter fotográfico precisa de agilidade no registro e o fotógrafo social, além da possibilidade de fotografar ilimitadamente, tem a possibilidade de realizar os efeitos mais variados para deleite dos noivos, aniversariante etc.
Contudo, a ideia de que a arte evolui com a tecnologia é equivocada. O surgimento de um novo processo tecnológico não substitui outro antigo, na arte. Assim, a guitarra elétrica não substituiu a guitarra acústica (ou violão), mas ambos passaram a conviver. Da mesma forma, a pintura não foi substituída pela gravura, e esta não o foi pela fotografia.
Assim, a resposta para a pergunta acima é: nenhuma. Para a fotografia em si, nenhuma. Ocorre que a partir de seu advento, a fotografia digital passa a ser responsável por um sem número de imagens até competentes mas que estão longe de ser arte. E essas imagens passam a circular com imensa velocidade na Internet e passam a fazer parte do imaginário. Isso não é arte, como uma canção de Kelly Key não o é. Não está destituído de valor cultural, mas no que toca à arte (passando por toda a discussão feita por autores como Deleuze, Gullar, Nietzsche), sim.
A fotografia artística segue seu rumo. Alguns fotógrafos seguem fazendo fotografia no quarto escuro, outros seguem fazendo fotografia como em 1890, e outro com câmeras digitais. A qualidade da arte não está no instrumento, mas no artista.
Jeff Wall |
Annelies Strba |
Kenji Ota |
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