sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Estudando Tom Zé


Dizer mais o que sobre Tom Zé?

Qualquer coisa que eu diga é cair na mesmice. Mas o fato é que acaba de ser lançada, nos Estados Unidos, em vinil, uma caixa com os três estudos sobre o samba. Sobre ela, melhor que a mim, é ler o crítico Robert Christgau, um dos primeiros críticos rock dos Estados Unidos. 

   Voltar a mergulhar nos discos de Tom Zé foi ainda mais revelador e prazeroso do que poderia ser. Considero todos eles nota dez, mas os únicos que não ficaram ainda melhores nessas novas audições foram os dois primeiros - que já tinham se convertido em favoritos da vida inteira em uma fita cassete que levei comigo em consecutivas férias - especialmente Estudando o Samba. Gravado quando Tom Zé tinha cerca de 40 anos, ele mina seu início como violonista e cantor de crônicas sobre Irará. Sua voz ainda é suficientemente maleável para adoçar suas canções, embora ele nunca elimine o que Veloso descreve como: "Suas observações mal-humoradas, interpretadas num sotaque rural que mais revela do que obscurece a elegância clássica de seu português educado e correto". O minimalismo de Zé toma a frente em títulos como Mã, Hein?, Dói, Vai e Tô. A percussão excêntrica - um dos efeitos envolve um liquidificador! - sempre mantém a batida. Mas o disco gruda na mente de maneira mais vívida por meio dos riffs que fundamentam Mã, Nave Maria e Augusta, Angélica e Consolação - as duas últimas, faixas adicionadas por Byrne na versão americana. Quanto à maneira como o samba é estudado, meu entendimento é tão rudimentar que só posso dizer que sei que eu o amaria ainda mais se entendesse as referências dispersas nos acentos rítmicos.

   Estudando o Pagode é uma opereta-samba sobre a opressão da mulher, com coros femininos e muitos pontos altos - do coro grego, formado por personagens de cartum recitando a Ave Maria no início, até a cancão final Beatles à Granel. Minha música favorita, situada na Cena IV-Desfile Gay-Lésbico, chama-se Elaeu, uma fusão muito tomzeniana de "ela" e "eu". Esse é um álbum feito de círculos concêntricos e vivo procurando pretextos para tocá-lo novamente.

   Como convém ao tema, o novo Estudando a Bossa é mais leve e mais imediato, com suas belas melodias cantadas por várias intérpretes, cada uma com seu próprio registro vocal, timbre e presença. Sei que há brincadeiras melódicas e líricas cifradas que os brasileiros entendem e eu não, e gostaria que alguém pudesse explicá-las em inglês. Mas há também referências que, sim, eu entendo, duas canções de louvação a João Gilberto, outra que brinca com Ob-La-Di Ob-La-Da e alguns cantores de quem já ouvi falar. Tomo sua beleza penetrante como a reconciliação de um homem velho com o lirismo do Rio, cuja sociedade de classes ele rejeitou quando era um jovem baiano com bons conhecimentos de harmonia. E observo que, embora Caetano trouxesse Tom Zé para São Paulo, no final dos anos 1960, e Byrne o salvasse de uma volta a Irará como trabalhador de um posto de gasolina, no começo dos 1990, ele reside a quilômetros do Rio, na industrializada São Paulo, onde pode cultivar suas arestas por quanto tempo quiser. Ou não. Tudo depende do que escolher para sua nova música, que espero ouvir em breve.
 Veja mas aqui.

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