terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Arte de Massa x(?) Arte de Elite


   Existe uma espécie de classificação (amplamente aceita) social da cultura que a divide em três: cultura popular, cultura de elite e cultura de massa. Esta separação, grosso modo, trata da origem e do destino sociais da cultura.

   A cultura popular, segundo essa classificação, são as manifestações populares de cultura. Realizadas pelo povo e, a princípio, com o povo como destino. É uma arte não erudita, não acadêmica (ainda, a princípio) e parte de necessidades sociais reais, urgentes e cotidianas. Geralmente é circunscrita a uma comunidade ou região. O samba de Noel Rosa e os espetáculos circenses e mambembes são exemplos de cultura popular.
   A cultura de elite - vou insistir: a princípio - é feita pela elite e para a elite. É uma arte que nasce de preceitos acadêmicos, com erudição e tem como público, acadêmicos, eruditos ou quem queira parecer ser. A música de Anton Webern e o concertos na Sala São Paulo são exemplos.
   A cultura de massa é um fenômeno da sociedade capitalista. É a cultura produzida pela indústria cultural com fins meramente lucrativos, nunca artísticos. Seu único fim é vender, e não interessa qual o valor artístico ou cultural da obra. Não interessa qual o grau de inovação ou o teor. O que interessa é que o maior número de pessoas possível a compre. Para tanto, se valem dos meios de comunicação de massa para veicularem suas obras e de pesquisas de opinião, para definirem um norte para suas criações. Um norte que aponte para aquilo que mais gente goste ou queira. Telenovelas, por exemplo, tratam sempre de assuntos que não choquem. Ainda que tenham certo cunho social, nunca chocarão a ponto de afastar o público, pois o que se quer com a veiculação de telenovelas é que o máximo de pessoas a assistam para que se possa vender o espaço comercial a um preço elevado. Assim, nunca uma obra de arte de massa subverterá qualquer paradigma ou irá na contramão de qualquer ideia estabelecida.
   Contudo, no título deste esboço há uma interrogação logo depois de sinal de versus. E por quê? Ora, segundo a explanação acima, no campo da arte, a arte de elite deveria estar no lado oposto da arte de massa. Enquanto esta buscaria o raso, a superfície do saber, o corriqueiro e banal, aquela buscaria o novo, a pesquisa, o profundo (já que erudita e acadêmica). Mas, na prática, não é o que podemos observar.
   Uma parte da arte de elite, principalmente na fase da sociedade de consumo do capitalismo (a atual), não é senão uma versão pomposa e cara da arte de massa. espetáculos como os caríssimos musicais da Brodway em versão brasileira, ou os do Cirque du Soleil não são produzidos pela indústria cultural visando única e exclusivamente o lucro? Pode-se objetar que o Cirque du Soleil inova na linguagem circense, pesquisa etc. Mas será que o Cirque du Soleil  está disposto a inovar tanto que choque seu público e perca lucro? Será que os produtores dos musicais caros que invadiram São Paulo estão dispostos a investir seus milhões de reais em algo que pode não ter um público rentável? Claro que não. Essa arte, embora tenha como destino a elite e seja produzida por uma elite intelectual e social, usa dos mesmos artifícios da cultura de massa e, embora não queira atingir as massas, quer atingir a maior parte de endinheirados que queiram mostrar que fazem parte da elite cultural do país e estejam dispostos a pagar as exorbitâncias cobradas por seus ingressos e dar-lhes lucro.  Para tanto, se valem dos meios de comunicação de massa para veicularem suas obras e de pesquisas de opinião, para definirem um norte para suas criações (sim, esta frase foi copiada e colada).
   Assim, a arte de elite, em tempos de consumo acima de tudo, não se afasta da arte de massa, mas se aproxima dela. Se não nos fins, nos meios.

Um comentário:

  1. A produção cultural e artística sempre revela os valores dominantes na sociedade, e estes sempre serão aqueles que melhor servem às elites. Ao mesmo tempo, ela reforça estes valores com a finalidade de impulsionar a máquina do consumismo: Individualismo, culto ao corpo e ao sexo, busca do sucesso pessoal, financeiro, fama, satisfação íntima e o prazer a qualquer custo (drogas lícitas ou não).

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