domingo, 2 de janeiro de 2011

Tudos

        Tudo o que eu podia dizer sobre Arnaldo Antunes, disse aqui. Abaixo, um poema seu, do livro "Tudos".


    As pedras são muito mais lentas do que os animais. As 

plantas exalam mais cheiro quando a chuva cai. As andorinhas 

quando chega o inverno voam até o verão. Os pombos gostam 
de milho e de migalhas de pão. As chuvas vêm da água que 
o sol evapora. Os homens quando vêm de longe trazem 
malas. Os peixes quando nadam juntos formam um cardume. 
As larvas viram borboletas dentro dos casulos. Os dedos dos 
pés evitam que se caia. Os sábios ficam em silêncio quando 
os outros falam. As máquinas de fazer nada não estão 
quebradas. Os rabos dos macacos servem como braços. Os 
rabos dos cachorros servem como risos. As vacas comem duas 
vezes a mesma comida. As páginas foram escritas para 
serem lidas. As árvores podem viver mais tempo que as 
pessoas. Os elefantes e golfinhos têm boa memória. Palavras 
podem ser usadas de muitas maneiras. Os fósforos só podem 
ser usados uma vez. Os vidros quando estão bem limpos 
quase não se vê. Chicletes são para mastigar mas não para 
engolir. Os dromedários tem uma corcova e os camelos duas. 
As meia-noites duram menos do que os meio-dias. As 
tartarugas nascem em ovos mas não são aves. As baleias 
vivem na água mas não são peixes. Os dentes quando a gente 
escova ficam brancos. Cabelos quando ficam velhos ficam 
brancos. As músicas dos índios fazem cair chuva. Os corpos 
dos mortos enterrados adubam a terra. Os carros fazem 
muitas curvas pra subir a serra. Crianças gostam de fazer 
perguntas sobre tudo. Nem todas as perguntas cabem num 
adulto. 

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