Tudo o que eu podia dizer sobre Arnaldo Antunes, disse aqui. Abaixo, um poema seu, do livro "Tudos".
As pedras são muito mais lentas do que os animais. As
plantas exalam mais cheiro quando a chuva cai. As andorinhas
quando chega o inverno voam até o verão. Os pombos gostam
de milho e de migalhas de pão. As chuvas vêm da água que
o sol evapora. Os homens quando vêm de longe trazem
malas. Os peixes quando nadam juntos formam um cardume.
As larvas viram borboletas dentro dos casulos. Os dedos dos
pés evitam que se caia. Os sábios ficam em silêncio quando
os outros falam. As máquinas de fazer nada não estão
quebradas. Os rabos dos macacos servem como braços. Os
rabos dos cachorros servem como risos. As vacas comem duas
vezes a mesma comida. As páginas foram escritas para
serem lidas. As árvores podem viver mais tempo que as
pessoas. Os elefantes e golfinhos têm boa memória. Palavras
podem ser usadas de muitas maneiras. Os fósforos só podem
ser usados uma vez. Os vidros quando estão bem limpos
quase não se vê. Chicletes são para mastigar mas não para
engolir. Os dromedários tem uma corcova e os camelos duas.
As meia-noites duram menos do que os meio-dias. As
tartarugas nascem em ovos mas não são aves. As baleias
vivem na água mas não são peixes. Os dentes quando a gente
escova ficam brancos. Cabelos quando ficam velhos ficam
brancos. As músicas dos índios fazem cair chuva. Os corpos
dos mortos enterrados adubam a terra. Os carros fazem
muitas curvas pra subir a serra. Crianças gostam de fazer
perguntas sobre tudo. Nem todas as perguntas cabem num
adulto.
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